O Palácio dos Carrancas insere-se na corrente neoclássica que marcaria a arquitectura civil portuense no final do século XVIII[wfn]Ao nível urbanístico, este Palácio surge num período de grandes alterações, com o plano renovador dos Almadas e, mais concretamente, de Francisco Almada e Mendonça, que sucedeu a João Almada na direcção da Junta das Obras Públicas.[/wfn]; a sua construção data de 1795, e o seu risco é atribuído ao “arquitecto da Cidade”, Joaquim da Costa Lima Sampaio, que aparece ligado ao cônsul britânico John Whitehead. Com efeito, esta associação acaba por se tornar mais evidente se observamos a composição de um alçado da fachada do Palácio e a secção nascente do Hospital de Santo António.
No que diz respeito à sua inserção urbana, o facto de este edifício se implantar num lote pouco profundo, obrigou a que o alinhamento da fachada fosse feito pelo perfil da rua, abdicando assim de um “espaço envolvente mais desafogado.”27 Já a condicionante topográfica existente foi aproveitada para a inserção de um jardim interior e instalação da fábrica ao nível do primeiro andar, sendo o acesso a esta realizado por entradas laterais que comunicavam com as traseiras por escadas exteriores de ambos os lados do edifício.
(Apontamento de Carla Ribeiro, ESE.PPORTO)
O espaço reservado a habitação utiliza o esquema em U em torno de um pátio central, compreendendo o rés-do-chão, o piso intermédio ou mezanino e o piso nobre, integrando ainda o sótão e águas – furtadas.
O segundo corpo que apenas se desenvolve ao nível do piso intermédio, aproveitando o declive do terreno, prolonga simetricamente em duas alas laterais o edifício principal, formando um jardim interior. […]
Já no andar intermédio a dimensão das divisões terá imposto um tratamento mais sóbrio, quer pela compartimentação do espaço, 0 seu menor pé direito, e a utilização que lhe era dada.
O prolongamento deste piso, está intimamente ligado à necessidade de integrar no mesmo espaço a Fábrica de Galões de Ouro e Prata, propriedade da família Moraes e Castro. Nas alas daí resultantes se instalam as oficinas e simultaneamente se aloja 0 pessoal.
(Carneiro et al., 2007, pp. 38–39)
Planta do Museu Nacional Soares dos Reis
Os documentos consultados fazem referência a alguns dos equipamentos e trabalhos efectuados. como a casa de refinação das matérias-primas, bancas de vários tipos, sendo uma grande de puxar as barras, cinco tornos, jogos de escachar, o engenho das lantejoulas e ainda cerca de 14 teares. Aí trabalhavam os oficiais que transformavam 0 ouro e a prata – tirador, escachador, o oficial de palheta – para serem utilizados nos galões, franjas, canotões, canotilhos, lantejoulas, etc.
O edifício é em granito e embora ao longo dos anos tenha sofrido alterações, devidas à mobilidade da família e à frequente existência de hóspedes, podem esboçar-se alguns princípios de utilização dos vários pisos. No rés-do-chão encontramos o grande átrio de entrada à volta do qual se distribuíam os armazéns, cavalariças e cocheiras. O andar intermédio terá sido utilizado pela família, e o andar nobre reservado para as personagens importantes que aqui se alojavam. O último andar deveria ser destinado aos criados, e as oficinas da fábrica e talvez a cozinha ocupavam as duas alas que rodeavam o jardim interior. No seu interior, destaca-se a decoração cuidada e expressamente encomendada pelos Moraes e Castro, nomeadamente os estuques da sala de jantar e o mobiliário da sala de música, inspirado nas criações de Robert Adams, e que são tradicionalmente atribuídos a Luís Chiari; de destacar ainda as pinturas de arabesco e grotescos, de influência pompeiana, tão dos gosto dos neoclássicos; eventualmente Viera Portuense teria sido responsável pela pintura dos tectos.
O MNSR é alvo de uma remodelação maior a partir de 1992: projeto da autoria do arquiteto Fernando Távora. A sua concretização realiza-se em julho de 2001, sendo o Porto a Capital Europeia da Cultura.
A OASRSul e a Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa organizaram a Viagem “Revisitar Fernando Távora”, que se realizou em fevereiro de 2016.
A visita percorreu 23 obras desenhadas ou intervêncionadas em Portugal por Fernando Távora.