Curiosíssimas na sua maneira, são as duas pinturas de costumes de Filippo Bombelli, Coro dos Capuchinhos na Praça Barberini, de 1827, e Escola de Meninas em Roma, de 1823 (?), embora o modelo não seja exclusivo deste pintor, dadas as semelhanças de tema e de tratamento pictórico com obras de François-Marius Granet (1775-1849).
Estes extraordinários interiores de edifícios religiosos, com as suas comunidades, ateliers de artistas, internatos e espaços de recolhimento, em geral, tiveram grande difusão, por contraste com a pintura política e belicista do neoclássico. Apesar do seu teor descritivo, no Coro dos Capuchinhos, o pintor não terá sido fiel aos preceitos rituais da Ordem, como aponta Paula Santos, que encontrou algumas incoerências, nomeadamente quanto ao momento do cerimonial.26 São peças que equacionam toda a ambiguidade da palavra realismo. A precisão, a minúcia e o cuidado posto em todos os aspetos das pinturas conferem-lhe a um tempo valor realista e estranheza e a sua dimensão assume-se, simultaneamente, monumental e miniatural. A perspetiva, a presença das sombras no soalho, as figuras como se fossem pequenas esculturas de madeira, a estabilidade da cena e uma espécie de suspensão do tempo, provocou o fenómeno da “semelhança deslocada”, de que falava Didi-Hubermann, e foi impossível afastar a ideia de pintores como Di Chirico que nos levaria longe. Peças documentadas, particularmente no que se refere às circunstâncias da encomenda, ao intermediário da aquisição e ao envio dos trabalhos de Itália para Lisboa e depois para o Porto, com indicações sobre os cuidados a ter para que não se danificassem, não impedem a existência de aspetos ainda por “desfiar”.
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26. Santos 1997, n.º 6