O destino público do Museu Allen depois da morte do seu fundador acabou por determinar que a gestão das coleções, que então passaram para o domínio municipal, viesse a ser conjugada com a do seu vizinho Museu Nacional de Soares dos Reis a partir da década de 1930.
Naquele tempo foram transferidas as coleções dos dois museus, Municipal e Soares dos Reis, do antigo Convento de Santo António da Cidade (onde permaneceu a Biblioteca Pública Municipal do Porto), para o Palácio dos Carrancas, reabrindo o museu nacional em 1942 depois de avultadas obras de adaptação, seguindo as mais modernas tendências museográficas e tendo como diretor Vasco Rebelo Valente.
O depósito das coleções municipais no Museu Nacional de Soares dos Reis e a possibilidade de uso público do palácio legado pelo último rei de Portugal, promoveram um extraordinário reencontro de memórias e espaços que acrescentam a este Museu um caráter histórico.
O Palácio dos Carrancas foi quartel-general de franceses e ingleses durante as invasões francesas, cruzando-se assim com a participação cívica de João Allen na colaboração com o exército britânico, relembrada nesta exposição. Por outro lado, as memórias do período liberal, marca decisiva da cidade, estão intrinsecamente ligadas à vida deste palácio onde se hospedou D. Pedro IV quando entrou no Porto depois do desembarque do Mindelo.
É assim que em 1942 o Museu Nacional de Soares dos Reis tem a responsabilidade da herança de duas instituições museológicas com uma presença notável, não só pelas suas coleções como também pela filosofia que caracterizou a sua constituição. A esta responsabilidade, juntou-se a de habitar um edifício carregado de memórias de dois períodos marcantes da história do Portugal moderno e da cidade do Porto.
A forma como, desde meados do século XX até hoje, este Museu tem acompanhado as tendências da museologia e da museografia, tem ditado o seu caráter mais ligado à História, à Arte ou às Artes chamadas decorativas na sua exposição permanente. Se a organização característica do século XX separou as coleções de Arte das de Ciência, não considerando estas últimas na exposição permanente do Museu, é contudo marcante a ação de Vasco Rebelo Valente no alargamento da tipologia das coleções, com as Artes decorativas, mas também chamando a esta instituição a competência de dar sequência à preocupação patrimonial de um outro notável Homem de Museus, Joaquim de Vasconcelos, do Museu Industrial do Porto.
Podemos considerar que o carácter diversificado das coleções patentes no Museu Nacional de Soares dos Reis, quer em termos temporais quer em termos disciplinares, retoma o ecletismo que a formação e determinação de um Homem erudito como João Allen imprimiu ao seu Museu.
Maria João Vasconcelos
(Ex-Diretora do Museu Nacional de Soares dos Reis)
*Extrato do Catálogo da exposição, João Allen – colecionar o mundo, pág. 11
Olá Paulo, parabéns pelo seu excelente trabalho, adorei os camafeus, e as miniaturas. As fotos e os textos estão muito bem. 🙂
Cara Marília Ferreira agradeço as suas amáveis palavras. Espero que assim terminado este seja um ponto de divulgação e também de interação.