Tradução D. José de Urcullu, primo e amigo de João Allen, é autor de artigos do jornal “O MUSEU PORTUENSE”, e
Exposição
João Allen colecionar o mundo
Entrevista a Rui Morais
Comissário da Exposição
João Allen, é o décimo primeiro filho de Duarte Guilherme Allen, nascido a 01 de maio de 1781, em Viana do Castelo, filho de um abastado comerciante, de vinho do Porto e têxteis, revelando desde tenra idade o gosto pelo desenho e pintura, indo com 12 anos estudar para os Estados Unidos da América. Regressa mais tarde a Portugal, aceitando o convite de sua irmã, Francisca Allen Sampayo, recentemente viúva, para se associar aos seus negócios. Isto acontece em pleno inicio das invasões francesas, onde Allen tem um papel ativo. Todos estes acontecimentos não o demoveram da sua grande paixão, o colecionismo. Livre das suas obrigações da guerra, inicia as suas viagens, em busca de arte, contactos e conhecimento. Homem com o prenúncio de modernidade, proteção do património aliado à educação, cria à sua imagem o Museu Allen.
Comissário da Exposição
Nos 170 anos da morte de João Allen o Museu Nacional de Soares dos Reis pode concretizar um antigo projeto latente no Museu de fazer uma exposição de homenagem ao fundador de um dos dois museus do Porto que, no século XIX, foram prenúncio de modernidade e ligaram o colecionismo e a proteção do património com a investigação e a educação, o Museu Allen.
O edificio que serve de Museu, é situado no fundo do jardim da casa em que mora o Sr. Allen: consta de tres salões iguaes de 22 palmos e meio de altura, 47 de comprimento, e 26 e meio de largura. A luz entra em todos elles por claraboias bem dispostos no tecto.
A primeira sala contém uma riquíssima collecção de conchas, entre as quaes algumas ha de muitissima estimação e que outros gabinetes publicos não possuem. Todos ellas estão colocadas por famílias, segundo o systema de Linneo com preferência ao de Lamarque. Vê-se alli quão caprichosa tem sido a Natureza tanto na figura como nas cores, que tem dado a certas conchas. Que assombrosa variedade ! Que delicadeza nas formas ! Que profusão, que viveza nos matizes ! Alem das conchas há também outras curiosas produções marítimas dignas da atenção d’um naturalista
É inquestionável a riqueza do espólio, as referências de D. Urcullu remete-nos para salas repletas de tesouros e da visão de um Homem, que deixa um legado a todos os Portugueses, tanto histórico como cultural, não sendo visível num tempo próximo seja passado ou futuro outro igual.
Excerto do Tratado Elementar de Geografia Astronómica, Fizica, Histórica ou Politica, Antiga e Moderna, escrito por D.José Urcullu. Onde descreve o Museu Allen.
Todos os domingos, João Allen abria a porta do seu Museu a quem o desejasse visitar, servindo o proprietário, graciosamente, de cicerone.
A 11 de Abril de 1852 o Museu abre suas portas ao público com um novo nome, Museu Portuense. A direção do museu fica a cargo de, Eduardo Augusto Allen, filho de João Allen, fundador da Companhia do Palácio de Cristal, sendo mais tarde honrado com o título de Visconde de Villar d’Allen.
Este, herda de seu pai o gosto pela arte, prosseguindo o crescimento e enriquecimento do museu. Passando a aquisição de peças, a ser feita por doações e compras através de cônsules espalhados pelo mundo.
Em 1826, João Allen inicia o seu Grand Tour, já tardio devido à guerra, encontrando-se acompanhado por sua mulher, Leonor Carolina e irmã, Ermelinda, futura viscondessa da Regaleira. Os passos de Allen estão bem definidos pelo seu passaporte, peça central da exposição, João Allen – Colecionar o Mundo, emitido a 26 de setembro de 1826, em Paris.
Terá optado pelo verdadeiro Grand Tour, que seria uma viagem a Paris seguido de um circuito pelas principais cidades italianas, alargando as suas expectativas no encontro de artistas, peças de arte e objetos que para si seriam importantes e dignos de os agregar à sua coleção .
A viagem tivera que ser muito bem preparada, através de roteiros[1], tendo em consideração os meios de transporte, acomodações, festividades, locais e pessoas a visitar.
[1] . Estes roteiros adotavam múltiplas formas narrativas tais como contos, diários, correspondência, guias, entre outros.
Esta exposição trouxe a público muitas obras que se encontravam em arquivo e que à décadas não eram vistas pelo público em geral.
Sendo da diversidade da exposição que nasce o seu título, surgindo como uma metáfora, colecionar o mundo
Tradução D. José de Urcullu, primo e amigo de João Allen, é autor de artigos do jornal “O MUSEU PORTUENSE”, e
Aquando da morte de seu fundador, João Allen, a família decide fazer uma avaliação e colocar o Museu à venda, a
O Grand Tour é uma viagem longa e morosa, um fenômeno social, entre a alta burguesia do século XVII e XIX,
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Esta exposição trouxe a público muitas obras que se encontravam em arquivo e que à décadas não eram vistas pelo público em geral, nas palavras do comissário Costa Reis, – As pessoas ficaram maravilhadas!, – As pessoas estão sedentas por arte antiga!. Sendo da diversidade da exposição que nasce o seu título, surgindo como uma metáfora, colecionar o mundo, que advém da exposição não se ter centralizado somente na riquíssima pinacoteca de João Allen, mas em todo o espólio do Museu Allen/Museu Portuense, e na sua diversidade, mostrando a paixão de um Português. Todo este espólio foi organizado de forma consolidada, permitindo ao visitante percorrer o percurso da viagem realizada por João Allen, com recurso inclusive do registo dos cartões de visita, importantes, pois evidenciam a presença de Allen em locais e estabelecimentos, bem como contactos tidos por ele. A exposição encontrava-se recheada de peças, já descritas aqui por Urcullu, e outras que seriam um complemento ao Grand Tour, como a biblioteca portátil, peças estas maioritariamente do arquivo do MNSR e outras gentilmente cedidas para a exposição como por exemplo o cálice e paterna do século XVI, um conjunto de dois, que João Allen comprou ao convento de Arouca em 1834, atualmente pertencentes à Santa Casa da Misericórdia, evidenciando esta exposição através das peças expostas, exuberância, imponência e qualidade.
Destacado nas paredes da exposição obtínhamos conhecimento, em textos sucintos, com tradução em inglês, da biografia e excertos do Grand Tour de João Allen. A homenagem, é evidenciada ainda por fortes títulos e textos que os acompanhavam tais como: musealização da coleção allen nos séculos XX e XXI, the museualisation of the allen collection on the 20th century ando n the 21st century.
Concentrados, os comissários tinham como principal preocupação, que a exposição tivesse coerência, dado à diversidade e quantidade de peças expostas, e que a homenagem pelos 170 anos a João Allen fosse notória (Meireles, 2020, min. 10.24), cumprindo-se assim um compromisso há muito sentido pelo MNSR.
Considerada pelo Dr. Costa Reis como uma das exposições da década para o MNSR, dado à sua dimensão e importância, teve o envolvimento de muitas pessoas, com um importante contributo de investigadores e dos descendentes da família Allen, que culminaram num importante estudo sobre João Allen e o Grand Tour, por ele realizado, epilogados num livro, um catálogo, sobre a exposição, João Allen – colecionar o mundo.
Servindo de base de investigação e como guia orientador na elaboração da exposição, esteve o passaporte de João Allen, peça central da exposição, perfeitamente preservado e minucioso das passagens e livres trânsitos concedidos a João Allen. Da coleção em si somente existem estudos parcelares, muito existe ainda a investigar, deixando aqui o MNSR, através do catalogo publicado a porta aberta a novos estudos (Meireles, 2020, min. 11 a 14).
A exposição “nasce de dentro para fora”, visto que grande parte das peças estão na posse do MNSR, considerada a pinacoteca como coleção principal, ela que molda de forma incontornável a exposição permanente, uma herança de tal forma importante que nos “puxa” para o neoclassicismo. Sem João Allen o MNSR não teria as pinturas do Vieira Portuense e de Domingos Sequeira (Meireles, 2020, min. 31.52).
A exposição esteve aberta ao público em geral, sem apresentação de serviços educativos, expondo mais de 250 peças, organizadas de um modo temático, exibindo não somente as peças adquiridas, mas também a irreverência, os interesses, o gosto e conhecimento enciclopédico do seu patrono, João Allen.
Existiriam atividades programadas, como visitas organizadas de modo a fomentar o conhecimento da obra exposta bem como o percurso de vida de João Allen. A 24 de maio de 2018 deu início o Congresso Internacional do Museu Eclético, com duração de dois dias, com o objetivo de lançar uma perspetiva comparativa entre o conceito de museu do século XVIII, até ao Museu Allen, com estudos, leituras e comentários do traço cronológico da evolução do Museu.